Como ensinar tecnologia para crianças
Desde o advento da Revolução Industrial, a sociedade passou por profundas modificações em relação à posição da família, e deu origem ao surgimento da sociedade contemporânea. Um dos principais destaques em meio a essas mudanças é que a sociedade atual é marcada pela predominância das tecnologias, especialmente as digitais.
É inegável que as crianças têm contato com tecnologia desde os seus primeiros anos de vida. Embora seja preciso cuidado a respeito de qual tecnologia e quanto tempo está sendo utilizada, é importante que ela seja uma aliada no processo de aprendizagem infantil. A infância representa a etapa mais importante do desenvolvimento do ser humano e, portanto, exige maior atenção e estímulo ao conhecimento da tecnologia, seja por parte dos pais e da escola.
Ensinar tecnologia para as crianças exige cuidado e atenção em relação à sua faixa etária. Em primeiro lugar, recomenda-se que o contato inicial com a tecnologia envolva as atividades conhecidas como low tech. Os pais e a escola podem, por exemplo, propor que a criança acompanhe um pequeno filme de animação e utilize massinha de modelar para replicar o que foi visto. Os responsáveis devem optar por uma animação curta e ilustrativa, com cenário e personagens diversos. Tal atividade representa uma estratégia interessante de inserção do conceito de tecnologia e estimula a criatividade da criança.
Além disso, o tema pode ser contemplado em atividades com material de sucata. Os pais e a escola podem fornecer objetos de sucata ou materiais recicláveis, como palitos sem ponta, garrafas de plástico, rolos e massinhas coloridas para que as crianças montem seus próprios brinquedos, instrumentos musicais ou mesmo seu primeiro robô. Quando estão livres para a criação de um robô partindo do zero, as crianças desenvolvem seu pensamento crítico com a intenção de projetar a estrutura de sua própria máquina.
Um dos campos mais úteis para crianças iniciarem seus contatos mais profundos com computadores além de apenas consumir conteúdo digital de forma passiva, é por meio da programação. Ao aprender a programar, a criança desenvolve habilidades de raciocínio lógico e passa a enxergar os computadores não como máquinas passivas, mas como ferramentas de oportunidades. O mais indicado é iniciar com a linguagem python, por ser mais simples e facilitar os primeiros comandos.
Considerando esse contexto, a robótica representa outro ramo da tecnologia que contribui de forma significativa para o aprendizado das crianças, sendo responsável pelo desenvolvimento de diferentes habilidades. De fato, ela auxilia na criação de conexões mais complexas no cérebro, estimulando o raciocínio lógico, a criatividade e o senso de organização, e envolve o aprendizado interdisciplinar, uma vez que a criança terá contato com as ciências, a mecânica, a eletrônica e engenharia. Atualmente, algumas escolas de ensino regular já apresentam em seu plano pedagógico o ensino da robótica. Outras instituições oferecem esse ramo de conhecimento como curso livre, e representa uma oportunidade de aprendizado da robótica do nível básico ao avançado.
Outra forma de ensinar uma criança é mostrar onde a evolução tecnológica está acontecendo. Falar sobre impressoras 3D, óculos de realidade aumentada, bitcoin, nanotecnologia, computação quântica, e qualquer outro assunto que aparente ser uma tendência para o futuro.
Mas não é preciso ir muito longe. A fotografia, por exemplo, também é classificada como um ramo da tecnologia que pode ser trabalhada ainda na Educação Infantil. Além de estimular a percepção crítica dos pequenos e explorar um olhar mais atento sobre sua identidade e aspectos estéticos, a fotografia estimula o conhecimento das artes visuais e das mais diversas culturas. Como prática educativa, os professores podem mostrar diversas imagens fotográficas e explicar, de forma teórica, sobre a origem daquele material. Posteriormente, como atividade prática, pode ser proposto que cada aluno tire suas próprias fotografias no ambiente escolar, estimulando assim a autonomia e o olhar de cada um.
O hábito da leitura favorece as habilidades linguísticas, de memória e conhecimento, além de aprimorar a concentração e o foco. Desde cedo, os pequenos devem ter a oportunidade de folhear livros, mesmo que ainda não tenham aprendido a ler. Ao aprenderem o alfabeto, os pais e a escola podem estimular a leitura por meio do uso da tecnologia. Atualmente, diferentes ferramentas estão disponíveis online com foco na leitura infantil. Os gibis da Turma da Mônica, escritos por Mauricio de Sousa, e O Sítio do Picapau Amarelo, escrito por Monteiro Lobato, são dois exemplos de literatura que estimulam a fantasia infantil, a imaginação e o contato com o universo musical e que podem ser acessados online.
O uso das redes sociais também representa um importante aspecto da tecnologia que deve ser ensinado às crianças de forma cautelosa. Primeiramente, é importante conversar sobre os riscos da exposição e reforçar a importância da utilização das mídias sociais de forma segura. Após sensibilizá-los e deixá-los cientes dos perigos, os pais ou professores podem propor a criação de um blog de divulgação de assuntos científicos ou direcionado às pesquisas e descobertas realizadas pela turma.
A partir dos 4 ou 5 anos de idade, as crianças também podem ser apresentadas ao universo dos games. Diversos jogos com temáticas infantis já foram criados pelas grandes desenvolvedoras de jogos eletrônicos, como Sony e Nintendo, os quais podem ser escolhidos e utilizados em casa no ensino da tecnologia. O dinamismo dos jogos e a exigência de movimentos rápidos contribuem para o pensamento ágil das crianças e para a tomada de decisão. Já os jogos baseados em filmes e histórias em quadrinhos apresentam uma ampla diversidade de elementos e cores que permitem o conhecimento do universo cinematográfico e estimulam a fantasia e imaginação.
Dessa forma, o papel dos pais é ensinar o uso da tecnologia aos seus filhos desde os primeiros anos de vida, como instrumento lúdico capaz de facilitar a construção do conhecimento e exercitar as diferentes habilidades. Por sua vez, as escolas deveriam considerar a inserção da tecnologia em seu Projeto Político Pedagógico e discernir quanto ao uso de diversas ferramentas considerando a faixa etária das crianças. Esse aprendizado infantil envolve os aspectos do brincar e da diversão, mas também do desenvolvimento de comportamentos e competências primordiais para a vida.
Além de todas as vantagens expostas, ensinar tecnologia para as crianças também contribui para o trabalho em equipe. Atividades que envolvem a construção de robôs e o desenvolvimento de pequenos projetos, por exemplo, devem ser propostas em equipe, para que as crianças aprendam a interagir com seus colegas e sejam capazes de expor suas ideias, mas também respeitar as outras opiniões. Por fim, é importante destacar que o ensino da tecnologia às crianças não pode substituir de forma integral as atividades tradicionais, como brincadeiras, a interação com a natureza, os esportes coletivos e o contato social. O uso da tecnologia na infância colabora com o aprendizado infantil, e deve ser considerado como uma estratégia de estímulo à criatividade e imaginação.
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